segunda-feira, março 29

Esfinges

Hoje absorveste a nossa última dose. Arrastaste-te pela calçada, nu e cru. E dedicaste-te às mil orações ocas de sentidos que sempre julgaste disfarçarem as minhas cicatrizes. Pára, meu amor! Em nome de todos os versos de loucura que citas incessantemente, pára! Imploro-te que termines de professar os 7 pecados e que nunca mais ouses chamar-me insensata sempre que te digo que não te amo. Tu, meu monstro do prazer, transformaste-te num vício, no meu carrasco, no meu maior receio, no meu maior medo.
Tendo plena consciência que cometi as maiores imprudências, as maiores temeridades e que tu, para além de infernos e labaredas, és o meu castigo, imploro-te de joelhos pregados no chão que desistas. Desprezo a tua bondade e recordo de unhas cravadas nas pernas que me leste as entre-linhas e que com isso, me mataste de amor e cobiça. Todas as noites te vejo a sacudir lençóis cobertos de actos depravados e hoje não é excepção. Por isso, mostra a piedade que ainda resta em ti e não me imortalizes!
E fixa bem no teu peito que este é o meu último grito, minha extravagância, minha loucura, minha neurose, minha paixão demente.

domingo, março 28

Nostalgia

A morte. Essa tão subjugada força natural. Esse mar de emoções e riscos a correr. A morte é uma palavra bonita, até. Tem um sabor agri-doce, sabe bem sussurrá-la entre dentes e língua. É bom pensar nela de vez em quando. Ainda assim, é algo que me deixa completamente acometida de dislexia respiratória. Esta súbita destruição de células sempre foi uma presença constante na minha vida. Desde pequena que me ensinaram que o mais próximo da perfeição que podemos estar é mortos.
Uns extinguem-se por acidente, outros não gostam da rotina que lhes foi imposta e matam-se. Sou um bocadinho cruel em relação ao suícidio. Acho que, quando alguém põe um fim à sua respiração é porque está no auge da sua coragem. Não existe nada mais intrépido que acabar com a sua própria corrente sanguínea! Oh como eu invejo os suicidas...
Há quem diga que a morte cheira a citrinos e que sempre que alguém morre, esse cheiro nauseabundo de insanidade e doença infesta as entranhas das pessoas. Sou sincera, adoro o cheiro a limões, sempre adorei. Mas há um facto que nunca esqueço: quando a minha alma morreu, não senti essa fragrância nos meus pulmões nem o sumo de vitaminas a escorrer-me pela pele.

domingo, março 21

Será que a vida é um começo ou um processo controverso de sílabas mortas?

Mas afinal, que direito tens tu de me matar de calor cardíaco? Ontem era um ser podre, com larvas e sangue coagulado à minha volta. Ontem estava sentada a ver a vida a escorrer nas paredes do meu quarto. Ontem mordia-me e arranhava-me de dúvidas e medos. Ontem tentei sair desta prisão feita de ti. Ontem tive um ataque cardíaco e morri da palavra mais triste do mundo. saudade. Ontem fui cremada por fogo azul. Ontem rezaram ao diabo, o meu deus predilecto e lançaram-me no mondego e deram-me de comer como se nisso, houvesse um resto de esperança. E hoje quem sou eu? Que espuma é esta de que sou feita? Que pó é este que cospes com nojo e repulsa? Ontem era insana, mas humana.

"mas onde tudo morre, tudo volta a renascer."

segunda-feira, março 8

Encarnado

Escrevo palavras no meu corpo
Um poema inteiro dedicado a ti
Aplico-lhe dedadas, imperfeições,
Borrões.
Todo o meu corpo é um poema escrito
E os milhares de palavras que deixaste em mim
Deram-lhe carácter infinito,
Sem fim.
Quando vais, a tinta escorre
E algo em mim desiste, algo em mim pranteia, algo em mim te recorda
Cada vez que leio um poema triste.


Por LC.