quinta-feira, setembro 20

A atitude de cada um define a sua moral. Facto.

The longer I live, the more I realize the impact of attitude on life. Attitude, to me, is more important than facts. It is more important than the past, the education, the money, than circumstances, than failure, than successes, than what other people think or say or do. It is more important than appearance, giftedness or skill. It will make or break a company… a church… a home. The remarkable thing is we have a choice everyday regarding the attitude we will embrace for that day. We cannot change our past… we cannot change the fact that people will act in a certain way. We cannot change the inevitable. The only thing we can do is play on the one string we have, and that is our attitude. I am convinced that life is 10% what happens to me and 90% of how I react to it. And so it is with you… we are in charge of our Attitudes.

Charles R. Swindoll

E desde quando é que o sorriso envolve dentes, boca e bochechas?

Sorriso, diz-me aqui o dicionário, é o acto de sorrir. E sorrir é rir sem fazer ruído e executando contracção muscular da boca e dos olhos. O sorriso, meus amigos, é muito mais do que estas pobres definições, e eu pasmo ao imaginar o autor do dicionário no acto de escrever o seu verbete, assim a frio, como se nunca tivesse sorrido na vida. Por aqui se vê até que ponto o que as pessoas fazem pode diferir do que dizem. Caio em completo devaneio e ponho-me a sonhar um dicionário que desse precisamente, exactamente, o sentido das palavras e transformasse em fio-de-prumo a rede em que, na prática de todos os dias, elas nos envolvem. Não há dois sorrisos iguais. Temos o sorriso de troça, o sorriso superior e o seu contrário humilde, o de ternura, o de cepticismo, o amargo e o irónico, o sorriso de esperança, o de condescendência, o deslumbrado, o de embaraço, e (por que não?) o de quem morre. E há muitos mais. Mas nenhum deles é o Sorriso. O SORRISO (este, com maiúsculas) vem sempre de longe. É a manifestação de uma sabedoria profunda, não tem nada que ver com as contracções musculares e não cabe numa definição de dicionário. Principia por um leve mover de rosto, às vezes hesitante, por um frémito interior que nasce nas mais secretas camadas do ser. Se move músculos é porque não tem outra maneira de exprimir-se. Mas não terá? Não conhecemos nós sorrisos que são rápidos clarões, como esse brilho súbito e inexplicável que soltam os peixes nas águas fundas? Quando a luz do sol passa sobre os campos ao sabor do vento e da nuvem, que foi que na terra se moveu? E contudo era um sorriso.

José Saramago

Amnésia precipitada

Como é que se esquece alguém que se ama? Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver? Quando alguém se vai embora de repente como é que se faz para ficar? Quando alguém morre, quando alguém se separa - como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já lá não está?
As pessoas têm de morrer; os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar Sim, mas como se faz? Como se esquece? Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. Estúpidas! É preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar. A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. É preciso paciência. O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou do coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguem antes de terminar de lembrá-lo. Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na alma. A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doída, devidamente honrada. É uma dor que é preciso aceitar, primeiro, aceitar.
É preciso aceitar esta mágoa esta moinha, que nos despedaça o coração e que nos mói mesmo e que nos dá cabo do juízo. É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução. Quantos problemas do mundo seriam menos pesados se tivessem apenas o peso que têm em si , isto é, se os livrássemos da carga que lhes damos, aceitando que não têm solução.
Não adianta fugir com o rabo à seringa. Muitas vezes nem há seringa. Nem injecção. Nem remédio. Nem conhecimento certo da doença de que se padece. Muitas vezes só existe a agulha.
Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera. Acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado.
O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar.

Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'


terça-feira, dezembro 14

Névoa




- Consigo sentir o fogo a queimar nos teus olhos. Fecha-os.
- E agora?
- O que vês?
- Gelo.






Há dias em que me apetece parar.

terça-feira, novembro 2

A minha escolha


 Sinto, falo, penso em ti. Cada segundo do meu dia é passado a recordar todas as palavras premeditadas que soltas e que espalhas pela minha cara sempre que os teus lábios de sábio, de monstro apaixonante me mordem. O meu egocentrismo estanca no começo da tua boca e suplico sempre que me envolvas de mais beijos, de mais língua e que desse veneno nasça um sufoco que anseio em todos os instantes. A minha mente foi invadida por todos os lances, todas as tuas imagens que guardo e das quais não prescindo. Existe em ti um alinhamento, uma forma fixa de gesticular, de ouvir. E, assim que olhas pelo vidro que protege os meus olhos, vejo-te a sorrir.
 Há algo em mim que me puxa para te ver. Existe em nós uma obcessão pelo extraordinário que me faz acreditar no que temos em conjunto. E eu recuo. Tenho medo de cair, tenho medo de voltar atrás no tempo e ver um abismo que dispenso saltar.
 És tu e esses teus belos olhos azuis onde me queria banhar que depoletam em mim um desejo incontrolável. Mas, mal fecho os olhos concentro-me no que sou e descubro a imensa verdade de que não me quero perder. És tu. És tu e essa cabeça ingénua que me prendem aqui.
 Perdoa-me se não confesso o meu nome, mas sei que sabes quem sou, porque me conheces e sentes a minha presença junto a ti.
Confesso que tenho inveja. Lido mal com a palavra partilha e quase que morro de ciúme dessa brisa que sopra nos teus cabelos, dessa areia que pisas e nela deslizas. Sei também que muitos te amam e que te fartas de voar nos teus sonhos. Mas não quero que sejas só meu, quero partilhar-te com o resto do mundo e deixar-te flutuar pelo azul de céu selvagem.
 Hoje vi-te e tocaste-me, senti-te respirar. Por vezes entras em fúria, quando te nego ao sentir o teu melhor aroma. Mas continuo a admirar-te desde o primeiro dia em que te vi. Essa tua imensidão de palavras, esse teu olhar... invejo-te pois todos os dias vês o nascer e pôr do sol, nunca dormes, és feliz.



- Tu, oh monstro dos sete mares. És tu!

sábado, setembro 11

A soma dos dias

Deixei de tirar fotografias. Eu que sempre gostei de captar e sobretudo conservar momentos especiais em imagens, deixei de o fazer. Eu que andava sempre de mão dada à minha máquina atrás das tuas expressões que insistias em esconder larguei rotinas.
Recordo-me que o melhor que consegui captar foi o teu olhar tímido, com um sorriso esquivo e uma expressão um tanto ou quanto eloquente. Algo segura, até. Um olhar distante, como se soubesses o que estava para vir.
Eu, que sempre adorei cravar o teu rosto pelo meu quarto, passei a preferir lembrar-me de ti institivamente, como se aquilo já fizesse parte de mim e não precisasse de recursos fáceis, cábulas palpáveis que já não me satisfazem. Essas estão aquém do sentimento que ainda me trazes e ao qual não consigo resistir. Por culpa minha, reconheço. Sou fraca, sempre o fui. Quando falo de ti, perguntam-me, incrédulos, como é possível eu ainda dar ouvidos a fantasmas e há quem se atreva a afirmar convictamente que eu não te ultrapasso por teimosia minha.
Não preciso de fotografias para te ver. Nos dias ensolarados olho para a minha sombra e lá estás tu, a espiar-me com um sorriso desconfiado. Afinal, deixei de ser apressada. Passeio, pausadamente, com um peso no peito, tentando tornear, sem sucesso, a obcessão em que te tornaste.
Não eras o meu tipo, nem nada que algum dia sonhei ter. Demasiado baixo, sempre demasiado descontraído, mãos agrestes nos bolsos e uma confiança estrondosamente irritante. Pouco te importavas com o que os outros pensavam, ou pelo menos, era essa a impressão que tentavas dar. Um guarda roupa banal, cheio de aprontos e duplos. Eu, exigente, gostava de rapazes seguros, direitos, com o olhar firme e mãos torneadas. Tinhas o teu estilo, cheio de ti mesmo. Sempre com um cheiro irresistível e um relógio elegante. Uma marca clássica. O teu olhar terno e sereno, de quem viu tudo, repousava numa energia enlouquecida e enebriante que transpiravas. Acrescentavas um sorriso picante, algo invulgar. E eu sentia-me estranhamente explosiva por tal privilégio de eleição, perturbada, a imaginar como seria acordar para a realidade.
A felicidade consegue ser aterradora. E eu nunca consegui lidar com ela. O que viria a seguir? Que faria eu da minha vida, depois de atingir um objectivo tão promissor? Sempre gostei de dificultar as coisas, criar regras dispensáveis para não acabar com o sabor da vitória tão facilmente. Assim, quando já te tinha, destinei-me a viver sem ti, para que a minha vida não acabasse ali, de imediato. E eu enganei-me. Achei que se usasse truques com o meu coração vencia a guerra. E a bomba estourou antes de qualquer comemoração. Tu não sabias gerir e eu fui feita para ser controlada. Tu preferias um porto seguro e eu agia por impulso. Disse-te que não te merecia. Adorava-te, mas a minha missão nesta vida não eras tu. Não te veria mais. Prosseguiria só. Foi a única vez que te vi chorar. Em silêncio. Já antes não acreditavas nas pessoas, tinhas sempre um pé atrás em relação ao sexo feminino e aceitaste um castigo que não era teu. Conformaste-te mais uma vez.
Agora, à noite, aconchegada pela luz indirecta, ausente de sombras tuas, trinco distraidamente um cacau desfeito de nós. Recordo-te num beijo rotineiro de filme falso e mudo de canal. Alheia ao que dele sai, mergulho na imensa verdade que tínhamos tão pouco em comum; que as discussões que não aconteceram eram prenúncio do silêncio que viria a seguir. E que o instinto era a única forma de manifestação viva de interesse mútuo. Lembro-me que as nossas bocas se pegavam e os nossos corpos se encaixavam num amor sem a mácula que era vísivel na tua pele de toque suave.
E, ao abrir os olhos, custa-me a acreditar que estou enterrada nesta ausência de ti, cheia de saudade e doença.

domingo, setembro 5

Olhos em fogo

- Estás ligada a um Passado. Não importa onde vás, com quem estejas ou o que trazes vestido. És um espectro solto com uma corrente ao pescoço. Optarás sempre pelo caminho mais fácil. Seguirás sempre o rasto da Esperança e desesperarás quando não encontrares uma saída. Irás estar sempre neste sufoco. O Inferno da Saudade irá sempre ser o teu lar. Podes dizer adeus aos teus sentimentos. Esses irão estar aprisionados em mim e nunca poderás tê-los de volta. Muito prazer, sou o Monstro do Amor.