quinta-feira, abril 22

Núvens como claras em castelo

Esta foi a tarde em que, finalmente, senti o cheiro a despedida nas minhas fossas nasais. Senti que era a última vez e que por isso, tinha todos os motivos e mais alguns para cravar os joelhos no chão e desatar a chorar. Já há muito desejava que te fosses embora, que me largasses e que nunca mais me dissesses nada. E por mais que encostasses o teu ombro ao meu, por mais que te apertasse contra mim, tinha completa noção que este compasso de espera iria terminar. Era impressionante como o meu tolo coração só te queria a milimetros dele e como eu lhe dava ouvidos..
Foi este, o derradeiro. O último pôr-do-sol em que dei por mim a tentar sentir de novo o cheiro a canela e a passado. Cheguei ao clímax só por ver os teus dedos a escorrerem-me por entre os braços, só por te morder a língua e por ter as ondas do teu cabelo a esvoaçar dentro dos meus ouvidos. Apercebi-me que afinal tinha um vazio enorme no meio da palavra segurança e que não era só em ti que a confiança morria mas sim em tudo e todos os que me rodeiam.
Foi hoje. O dia em que bloqueei os medos e me dei a conhecer um novo mundo. Ainda assim, perdoa-me ser fraca e não ter a coragem de um lince que o meu corpo de mulher-esfinge deveria ter para te dizer: dá-me ar.

sexta-feira, abril 9

Struggling

Para ti, Diana:

Choro. Choro mil lágrimas e prantos. Corre um rio de água salgada por montes e vales. e celam-se afluentes por passagens nocturnas. Choro de vergonha e de remorços. Tenho uma confissão para te fazer: és a minha artéria aorta e sem ti, a minha corrente sanguínea não flui, não cria vida. Com a tua ausência, volto a cair no fundo. Sem o açúcar das tuas palavras, sem o gosto dos teus conselhos, eu morro. Desculpa ser um fardo para ti e não conseguir ver isso porque tenho os olhos permeáveis. Perdoa-me por te colocar sempre numa posição menos confortável e jogar à corda bamba, deixar-te insegura, com o chão a fugir e o peito apertado sempre que vejo um obstáculo. Não há nenhum espelho capaz de me desenhar tão bem como tu. Não existe nenhum pintor que marque nas telas a minha cor como as tuas mãos. E ainda não nasceu ninguém que me confiasse palavras e sentimentos aprisionados na garganta como tu. Por agora, não habita mais ninguém no meu peito que interrompa as minhas lágrimas por entre sussurros soluçados de segredos infidáveis, incontáveis. E isto tudo porque, depois de me moldares e contornares os olhos com tinta preta, depois de ter permitido que entrasses em mim e que em mim ficasses, rebentaste. Rebentaste-me de lágrimas, de sangue, de medo. Rebentaste-me, minha artéria aorta.

quarta-feira, abril 7



... Corrói-me as veias como um veneno letal.

domingo, abril 4

Tentativa da omissão da verdade

«Apetece-me imenso abrir um buraco no peito. Daqueles fundos, de alto a baixo. Arrancar de lá o meu coração e senti-lo a bombear na mão, como se fosse uma bomba relógio»

Por Carolina Duarte.


Dói-me tanto a alma, meu amor. Dói demais, até. E a culpa é tua. É tua, minha neurose que não me deixas inspirar. Tua, que me mutilas as palavras sem dó nem piedade. Só tua.
Sinto-me cansada, fraca, esventrada por dentro e a querer dar parte forte quando tudo está em contraste. Sinto-me cansada por não conseguir cortar o vento com coragem e pôr as cartas na mesa. Sinto-me cansada por estar a derrapar em todos os sentidos e direcções. Sinto-me a morrer. Irónico, não? Eu, que fiquei no esboço de uma intimidade indecente. Eu, que fugi à monotonia da felicidade, sinto as pestanas a pesarem-me e as pálpebras a derreterem em lágrimas de sal. Continuo com um sabor da ferrugem na língua e nem os beijos mais açucarados curam este mal de amar. Se ao menos me largasses a mão e me deixasses voar...