quarta-feira, agosto 11

Névoa

Apetecia-me um beijo. Apetecia-me olhar-te nos olhos que se riem e esperneiam sempre tanto. Apetecia-me fixar-te os olhos, aproximar-me de ti devagarinho, sentir-te aproximar de mim também. E beijar-te. Devagar. Suavemente. Os meus lábios perdidos nos teus. As tuas mãos pelo meu pescoço, pelo meu cabelo, por mim. Encorpado. Um beijo encorpado. Com principio, meio e fim. Apetecia-me perder a noção do tempo no compasso dos teus beijos. Sentir-te a boca sedenta, urgente. Sentir-te a língua segura, sincopada. Apetecia-me desmaterializar-me aqui nos teus beijos. Num beijo tu. Nós. O primeiro. De tantos. Num tempo de beijos frescos e sorrisos e palavras ditas em tom de sussurro. Num tempo de sintonias e de sílabas à deriva. Num tempo sem murmurios, sem lapsos, sem medos, sem fúrias. Num tempo nosso. A começar. E depois sentir-te a língua que procura a minha e a abraça. Sentir-te a língua que me arrefece os lábios. Sentir-te a respiração cortada, suspensa, e depois largada como num suspiro. Sentir-te morder-me o lábio e dares-me mais um beijo quente. Um beijo urgente, com todo o tempo que falta. Com todo o tempo que temos para beijos, palavras, sorrisos e silêncios. Para o que é e para o que pode ser. Apetecia-me o toque sublime das portas entreabertas, porém quietas. Das portas que abrimos devagar para não acordar fantasmas de que não precisamos aqui. Apetecia-me dizer que te quero os beijos, as palavras, os sorrisos e os silêncios. Que te quero inteiro, com o passado que trazes, com as feridas saradas e as outras ainda por lamber. Que te quero por seres tu, com tudo o que te constrói. E apetecia-me beijar-te devagar. Sentir-me perder-me na amplitude dos teus beijos. Sentir-me encontrar tudo o que trazes escondido e me faz sorrir. Hoje era um dia bom para nos silenciarmos com beijos no entremeio dos lábios sorridentes. Para nos encantarmos e deixarmos que o desconhecido aconteça...

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