segunda-feira, agosto 16

Chocolates

Lembro-me do dia solarengo em que nos encontramos para beber um café, pensava eu, sabia lá que ias beber era um grilhão colado à minha alma de cristal. E eu nunca gostei de homens sabichões. Mas embalaste-me na tua voz farronca, brincavas com palavras e lançavas-me armadilhas num tom rouco e quente, sorrias-me com desdém e os teus olhos acendiam estrelas brilhantes. Se não fosse tão segura de mim, poderia dizer que me tinhas hipnotizado nesse dia. Fiquei tonta, como uma adolescente. Tinha um sorriso embasbacado na cara. O meu pensamento limitava-se às figuras ridículas, ou não, que poderia estar a fazer e mantinha-me calada. Envergonhava-me a tua segurança, acanhava-me os teus galanteios. Impressionante como o teu cavalheirismo e a tua acomodação no desconhecido me deixava frágil. Passo ante passo, conquistaste-me quando subitamente abriste um saco em que trazias uma caixa de chocolates. Era negra como a minha alma, banalmente em forma de coração, mas subliminarmente brilhante. Um pedaço de céu nas tuas mãos que aumentou a minha fome de ti. Recordo-me que falaste. No entanto, não ouvi sequer uma palavra. Aquelas frases eram como excertos de canções demasiado românticas que sinceramente, me aqueceram o coração. Eram como o sopro do vento, numa alba calma e paradisíaca.
Naquele momento, só o teu rosto e os teus braços fortes estavam presentes na minha íris. Aos meus olhos eras bonito, miraculosamente bonito, mesmo não o sendo. Mas perdi-me na tua graça, nas tuas armadilhas.
Hoje consigo ver que fui como um chocolate. Abriste levemente as minhas defesas com a gentileza com que tiravas cada pedaço e o desembrulhavas para depois mo dares na boca. Comeste pedaço após pedaço e depois fechaste a caixa, deixando-me tão vazia que só poderia encher esse vácuo com memórias tuas.

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