quinta-feira, julho 15

Canela

Nem sempre sei dizer desta paixão-demente. Nem dos momentos de fachada que encarcerei na memória, trancados a vinte e uma chaves, impossíveis de perder. Porque nem todos os actos deste drama louco são bons. Nem todas as personagens são vivas e nem todos os pontos são reais. Nem todas as ausências são prenúncio do que virá a seguir. E em cada frase, cada palavra repetida ao expoente da compaixão condensada em quatro paredes arrastam-se as certezas de que o fim está próximo ou pelo contrário, bem escondido nos confins de todo o teu ser.
Diante deste espaço a que chamam de realidade, todos somos meros pedaços de pó, sem alma nem corpo. Ausentes. Alegóricos. Sem fim. Como as histórias que se contam com moral no final, aquelas que ninguém sequer entende o propósito. Por vezes, o melhor é não escrever nada. Deixar que seja o tempo a traçar as linhas da vida. Deixar que os gestos nos tornem melhor elenco e que nos façam ver que afinal somos humanos, de carne e osso. Deixar que a voz se solte e que se chore sem medo em qualquer sítio que se esteja.
Todos os actos são contínuos. Todas as cenas e falas são verdadeiras. Todos os dias são bons, desde que estejamos vivos. Todos os dias são dávidas. Quando vives e te sentem respirar. Quando guardam o compasso do teu coração no peito e mentem às estrelas dizendo que não te amam. Quando ages e deixas o teu legado para trás. Quando na memória só haverá sorrisos teus. Lágrima nenhuma, apenas sor(risos). É isso que deixas para trás. E é por isso que valeu a pena.

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