sexta-feira, junho 18

A força das ondas

E ali estava ela sentada à espera que o mar o trouxesse de novo. A suplicar às ondas que o engolissem e o arrastassem para perto de si. A rezar aos deuses que lhe tocassem uma balada de volta. Aguardava ali, quieta, pávida e serena que ele viesse e lhe tirasse o sabor salgado dos lábios, que lhe dissesse que o seu lugar era consigo e que nem todas as coisas são certas mas que o seu coração tinha o nome dela cravado a cinzel.
Os dias contavam-se e Luna continuava ali, com as pernas cruzadas e os braços apertados com o frio da sua ausência, a rogar pragas às pegadas que ele havia deixado. Desfazia as mãos com lágrimas que lhe escorriam pelo pescoço. E mergulhava. Procurava-o entre as rochas e as algas, entre o medo e a saudade. Largava sangue pela areia e sentia os lábios frios, mortos, carregados de saudade e desespero. Corria. Saltava rochas e dunas apenas para o encontrar. Fugia dos rugidos do vento e tentava derrubar cada segundo com memórias demasiado gastas. Mordia-se. Arranhava-se. Sufocava-se de solidão e cortava o peito com lâminas de luz. Esperava. E por segundos, por leves segundos, sacodia os cabelos negros como tentativa de expulsar o sal deixado pela maresia e pela ausência dele.
Vivia de ar e de esperança semanas a fio, alimentava o mar com lágrimas e prantos. E quando achava que não havia nada a fazer, a esperança, essa viúva negra persistente, segredava-lhe ao ouvido que ele havia de voltar. E ela esperava. Desesperava. Sentia uma angústia incalculável, como se tivesse sido baleada no peito.
Passaram-se anos e Luna viu as marcas do tempo no seu rosto. Até que, num dia de tempestade viu a morte chegar. Implorou-lhe que esperasse por aquela paixão que tanto anseava receber. E a morte, essa tão maldita perfeição não acatou o pedido dela, levando-a consigo por mar adentro.
E aquele amado, aquele monstro dos sete pecados não soube que ela o esperou anos e anos naquela praia. Nunca se lembrou do passado que tinha deixado para trás. E ele nunca veio. Ele nunca chegou.

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