quarta-feira, maio 26

Words to leave unspoken

Mais que o teu olhar,
Dói-me a cegueira d'alma
Este querer e não-querer
Do teu silêncio lacónico.


Tocaram-se nas mãos como se aquela fosse a primeira vez que as suas mãos se tocaram. Olharam-se nos olhos e, de respiração presa, nervoso miudinho, falaram. E um silêncio maior do que eles engoliu-lhes as vozes. E falaram. Ela disse-lhe sem palavras o amor que lhe fluía por dentro, a vontade de responder a todas as perguntas e as dúvidas que trazia entre os dedos. O medo de resolver todas as equações que o seu coração mantinha. Disse-lhe que não conseguia ler-lhe os olhos e que apesar de alguém ter afirmado que aqueles vidros de mel eram o espelho da alma, não percebia o torbilhão que a engolia sempre que o lia. Escreveu-lhe nos lábios o desejo de que todos os caminhos percorridos, todos os gestos sejam unos. E sabia. Tinha a certeza que lhe pertencia, que cabia na palma da mão dele. E que a vida os tinha juntado para que traduzissem as histórias do mundo, em silêncios por alguma razão. E mesmo com um 'nós' conjugado no pretérito imperfeito, mesmo com a falta de um final feliz sorriu-lhe, disse-lhe em palavras mudas que o amava e que aquela sim, era uma paixão das duras que tornava em chamas, o iceberg que trazia no peito.

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