terça-feira, fevereiro 16

Espaço vazio



Às vezes dá-me vontade de cair. Dá-me vontade de tropeçar, bater com a cara no chão, partir o queixo e esfolar os joelhos. Às vezes apetece-me jorrar sangue como uma fonte e entrar em coma (induzido) para nunca mais acordar. Às vezes desejo ser violada no meio do chão e vomitar em cima do meu concretizador de sonhos. Às vezes tenho a sensação que beijar o teu corpo demente não chega, que precisava de te arrancar um pedaço de carne e saboreá-lo para ver se sabes mesmo a lã ou se não passas de caril com gambas. Às vezes passa-me pela cabeça a história da minha morte.
Não precisas de horas pornográficas nem de ordens para começar. Avistas-me ao longe e agarras os meus braços exaustos de ti. Ao teu mínimo toque entra em mim um verme e das minhas entranhas defeco o meu amor. Nisto, respiro fundo e morrem de vaidade os meus valores.
Não suporto ver-te engolir a minha saliva. Odeio ver que dessa tua cara de jejum e dessas tuas mãos nauseabundas de terra saiem frutos. Apercebeste-te disso bem no começo. Eu dei-te a matriz logo no ínicio porque afinal, quem sempre comandou as tropas foi a minha força de mulher-esfinge.
Mordo-te a língua e quase que morro envenenada. Quase que me sufocas de sentidos. Quase que me corróis as veias. Por segundos, deixo de inspirar. E tu, carente de amor, cegas-me os olhos com lanças de cristal, como se de uma certa nostalgia fosse eu feita. Cerras-me a vista mas não a audição. O teu tique-taque cardíaco continua e encurtas-me os passos puxando-me, rasgando-me, penetrando-me.
E continuas insatisfeito. Sussurras-me ao ouvido que nao te chega a minha dignidade e gritas. Gritas o quanto queres a minha alma, a minha pura alma. As tuas cordas vocais rasgam-se ao prolongares o teu discurso de homem-esfinge, "Volta-te para mim! Quero-a aqui nas minhas mãos! Dá-ma!".
Afinal que sede de mim é essa meu monstro do prazer? Que promessas eram aquelas de ferocidade, de violência, de rasgões de carne, de frialdades do prazer? Onde está o meu corpo gelado, sujo e pisado? Onde está o tal cheiro a orgasmos e cigarros apagados?



 


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